Perdas
O condenado vagueia pela cela. As correntes arrastam-se no ruído inóspito que a solidão lhe subjaz. Lembranças de um passado que não volta. Vivências de um presente que não resulta. O futuro é demasiado certo. Nas paredes escorre o líquido de culpa, madrasta da decisão errada. O tempo ausente de esperança teima em abraçar a figura deseperada do relógio pousado na secretária, cujos ponteiros avançam lentamente para um destino que se há-de cumprir. Os papéis, tão dilacerados, escondem esboços de uma escrita esguia e sem destinatário. São cartas... são palavras abandonadas de significado, sem ninguém para as compreender, sem ninguém para as guardar... O condenado chora. Não roubou nada.Não matou ninguém, nem ludibriou ninguém. Acreditou.
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